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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

21.- Um insólito atropelamento de galinhas

Porto Alegre Ano 5 # 1540

Pretendia hoje não falar em eleições. Será difícil não cair em tentação nesta dezena que nos separa do nervoso dia 31. Assim, autorizo-me um preâmbulo eleitoral. Li no texto O caluniador, figura da barbárie de Juarez Guimarães, na Carta Capital que “De todas as eleições presidenciais realizadas após a redemocratização, esta é certamente aquela que a calúnia cumpre um papel mais central na definição do voto. Ela foi utilizada em um momento decisivo por Collor contra Lula, compareceu sempre todas às vezes nas quais Lula foi candidato, mas agora ela mudou de intensidade e abrangência, tornou-se multiforme e onipresente”.

Devo referir que ontem, graças um marketing equivocado, pelo qual peço desculpa, pois em algumas mensagens não usei cópia oculta, este blogue bateu todos seus recordes: mais que dobrou o valor médio diário. Claro que a manchete contribuiu e assustou. Meu colega Geronimo Wisniewski, entre outros, escreveu: Olá Mestre! Também levei um susto com sua mensagem. Acho que já estou refeito! GW. Recebi um telefonema preocupado com a manchete que eu dera a blogada.

Uma muito querida orientanda, em meio a remessa preocupada de um capítulo da dissertação escreveu. Li o blogue de hoje... confesso que adoraria conversar mais com o senhor sobre isso. Sou daquelas pessoas que pensa que a opinião como a sua, com tanta vivência e embasamento, tem muito valor. Apesar de acompanhar seus escritos, sabemos quem nem tudo que pensamos pode ser escrito! Enfim, um dia quem sabe o senhor possa se tornar o agente de mudança do meu pensamento político... afinal, ando tão descrente que seria um alento sentir e ver que o meu país (e meu presente e futuro, diga-se de passagem) será dirigido por alguém em quem eu possa ter esperanças.

Respondi: Não blogueio para mudar as opiniões dos outros, mas acredito que a minha posição de intelectual precisa ser manifestada. Nestas eleições está jogo o futuro dos filhos de meus filhos. Eu quero um país melhor para eles. São incontestes as melhorias havidas nos últimos oito anos. Respeito estarmos em campos opostos. Nem de meus filhos buco mudar o voto, mas mostro para eles o quanto tem de mentiras nesta guerra suja que está havendo contra a Dilma. Temos que nos dar conta que “a calúnia foi ao centro da nossa vida democrática. A senhora ao lado no ônibus me diz que recebeu a informação que Dilma desafiou Jesus Cristo em um comício realizado na Praça da Estação, em Belo Horizonte. O motorista de táxi conta que um médico lhe assegurou que outro médico, seu amigo, diagnosticou gonorreia em Dilma” (Juarez Guimarães, na Carta Capital ).

Como disse Leonardo Boff, em ato com Oscar Niemayer e Chico Buarque: “Nestas eleições a verdade há de vencer a mentira”. Falemos algo mais ameno. Trago uma notícia de uma noticia quase pícara, que está em um jornal local desta quarta-feira:

Motorista responderá por atropelar galinhas Em São Valentim, caminhoneiro irá à Justiça por crueldade contra animais: Por atropelar duas galinhas, um caminhoneiro terá de responder à Justiça. O caso ocorreu em São Valentim, no norte do Estado, na sexta-feira passada, e encaminhado ontem ao Fórum.

O crime poderia ter passado despercebido, não fosse o testemunho de uma promotora de Justiça, que atua na área ambiental. Karina Albuquerque Denicol viajava de Erechim para São Valentim, pela rodovia que liga os dois municípios (RST-480), quando, após ultrapassar um caminhão, assistiu pelo retrovisor ao atropelamento das galinhas. Com a certeza de que o fato poderia ter sido evitado, pois mesmo sendo no asfalto o veículo não andava em alta velocidade, a promotora acionou a Brigada Militar.

Mal entrou em São Valentim, o caminhoneiro Alexandre Ribeiro do Prado, 24 anos, que transportava 12 mil quilos de carne suína em um caminhão frigorífico – modelo Truck, medindo 10,5 metros e com 4,2 metros de altura – foi detido pelos policiais:– Eu cheguei e lá estava ela com a polícia. Complicou porque eu tinha atropelado as galinhas, mas o caminhão estava carregado, e eu não podia parar de vereda, senão iria tombar, podendo morrer ou matar alguém.
Comunicado de que seria processado pelo atropelamento, caracterizado como crueldade contra animais, previsto na Lei de Contravenções Penais, Prado ligou para o patrão, em Chapecó, pedindo socorro.– Eu nem acreditei. Vou pagar a despesa do advogado e vou até o fim com este processo – disse o gerente da transportadora, Eloi Moretto.
O Termo Circunstanciado lavrado na hora chegou ontem ao Fórum de São Valentim. São 16 páginas narrando o fato, com fotografias tiradas pela BM. O documento foi enviado para o Ministério Público, e a promotora Karina, antes testemunha do fato, deve decidir agora se denuncia ou não o motorista:– Parece ridículo porque são galinhas, mas como promotora ambiental acho que qualquer vida tem que ser preservada. Ficou evidente que ele poderia ter parado e não fez.
Uma audiência foi marcada para 3 de novembro, e a promotora pretende oferecer o benefício da transação penal ao motorista, pois ele não tem antecedentes criminais. Com o pagamento de um salário mínimo, a ser doado a uma instituição de proteção ao ambiente, Prado pode se livrar do processo.

Enquanto esteirava na academia os mais dispares comentários. A maioria apoiando

à promotora. E se fosse um porco ou uma vaca o motorista certamente teria parado? E se fosse uma cobra ou um rato? Não há dúvida que devemos preservar a vida seja ela qual for. Eu que tenho dificuldades de matar uma barata ou um mosquito aplaudo a promotora.

Já que falei em vacas, uma daquela manada que ora invade burlescamente Porto Alegre e que foi assuntado aqui domingo. Na foto minha neta Maria Clara. Minha filha Clarissa a clicou na manhã de ontem e me remeteu por celular. Com essa marca de alegria, desejo a cada uma e cada um a melhor quinta-feira. Permitam-me recordar a frase de Boff: “Nestas eleições a verdade há de vencer a mentira”.

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