TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

26.- Uma nova concepção para ensinar Ciências exatas

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1880

É mais uma vez segunda-feira. O esplendoroso domingo de ontem, mitigou os seis dias passados em viagens, palestras e bancas. Agora é recomeças aqui. Hoje. aulas na Universidade do Adulto Maior – uma de meus mais desejados fazeres acadêmicos -- , que o feriadão sequestrou na semana e também o retorno; amanhã. Retorno, depois de duas semanas, às aulas de Conhecimento, Linguagem e Ação Educativa.

É a semana para despedir setembro e concluir as jornadas setembrinas com palestra na noite de quarta-feira em Curitiba e na quinta e sexta-feira voltar, depois de um tempo à Salvador.

Para iniciar a semana trago um texto que está na p. A3 da Folha de S. Paulo de ontem. Comecei a ler o texto, eivado preconceitos. Terminei aderindo à proposta do engenheiro paulista Paulo Blikstein, professor doutor da Escola de Educação e da Escola de Engenharia da Universidade de Stanford, com mestrado pelo MIT e doutorado pela Northwestern University (Chicago). Nome de referência na área, o dirige o Transformative Learning Technologies Lab de Stanford e presta consultoria em projetos educacionais nos Estados Unidos e em diferentes países em desenvolvimento, a começar pelo Brasil. Ele defende que “o erro é acreditar que a ciência e a matemática são pré-requisitos para a invenção; na verdade, são simultâneas a ela”.

Ao convite para a leitura de “Uma nova concepção para ensinar ciências exatas” adito votos de uma muito boa segunda-feira.

Nos Estados Unidos, dos 3,7 milhões que entraram na primeira série em 1984, só 20% declararam interesse em carreiras em ciências exatas na sétima série, e 4,5% se formaram nessa área. Agora, o governo americano percebeu o óbvio e tenta remediá-lo: a escola afasta os jovens das carreiras científicas.

O ensino de ciências exatas nos EUA, como no Brasil, é uma longa preparação para a graduação nessas áreas, ignorando que só 5% vão cursá-las. Fazemos dele uma aborrecida sequência de tópicos sem utilidade ou função cognitiva.

Os alunos nunca fazem ciência ou engenharia de verdade, nunca se aventuram em descobrir algo novo ou resolver um problema real; aprendem só o "básico", que, em grande parte, ignora os avanços científicos dos últimos 50 anos. O resultado é que 80% não se identificam com as ciências exatas já na sétima série - época em que se forma a identidade intelectual da criança.

Um novo tipo de currículo ao mesmo tempo beneficiaria os que não serão engenheiros, já que terão uma experiência positiva com as exatas e não serão adultos com medo de matemática, e aumentaria o número de crianças interessadas em carreiras nos campos da ciência e da engenharia.

O erro é achar que a ciência e a matemática são pré-requisitos para a invenção; na verdade, histórica e cognitivamente, essas disciplinas são simultâneas à invenção. A história da ciência mostra que ela não avança no vácuo, mas sim para resolver problemas reais. É esse o motor cognitivo e motivacional que move o inventor, o cientista e, é claro, o aluno.

Além disso, mesmo um "mau" aluno em matemática pode ser um ótimo engenheiro. A engenharia está cada vez mais próxima do design e mais longe do modelo calculista. Os computadores fazem a "matemática" da engenharia, deixando para o profissional o trabalho criativo. Os currículos mais avançados do mundo estão substituindo habilidades aritméticas e memorização por modelagem matemática e resolução de problemas complexos.

Nossas escolas têm quadras para as aulas de educação física e bibliotecas para estimular a leitura, mas não instituímos um lugar para ensinar invenção, tecnologia e criatividade. É preciso um espaço apropriado para tanto.
Em Stanford, criei o projeto FabLab@School: são laboratórios de invenção nas escolas, espaços permanentes, com professores especialmente treinados e materiais didáticos especializados.

Esses laboratórios contam com equipamentos de última geração, com a ajuda dos quais alunos criam projetos de engenharia e teorias científicas, colaborando com colegas espalhados pelo planeta. São lugares projetados para atrair todos os alunos, não exclusivamente os que já nutrem um pendor pelas ciências exatas.

O que escolhemos ensinar nas escolas é só uma parte do conhecimento existente. Teoricamente, ensina-se o que a sociedade acha mais importante, mas o que de fato sobrevive no currículo é o que é fácil de ser medido com provas e o que funciona com aula expositiva.

As vítimas são a ciência e a tecnologia, que só são devidamente aprendidas quando os alunos trabalham em projetos, fora da aula tradicional.
Se não percebermos que o que precisamos ensinar no século 21 não se encaixa nesse modelo, ficaremos prisioneiros dos conteúdos que são ensináveis dentro dos limites dele - como algoritmos de aritmética hoje tão úteis como saber ler um relógio de sol.

Sem um lugar e alguns cursos especiais para a invenção e a criatividade, não se desenvolve o entusiasmo pela engenharia. E sem ele, há pouca esperança de que tenhamos mais engenheiros no século 21.

10 comentários:

  1. Caro Chassot,
    Não entendi como ainda não havia lido essa blogada de 18 de setembro. Em todo caso, como não tive bons professores de matemática no então chamado segundo grau, quando me propus fazer vestibular, consciente de minhas limitações na matéria, entrei fundo e por conta própria nos livros de matemática e acabei aprendendo a ferro e fogo. Gosto da matéria e até dei aulas num pré vestibular durante um semestre. Abraços, JAIR.

    ResponderExcluir
  2. Meu caro Jair,
    teu comentário mais tardio reforça a tese de que as edições de blogue não são como jornal velho. Que só servem para enrolar peixe.
    Valeu saber tua passagem como professor.
    Volto ao assunto na edição de amanhã,
    achassot

    ResponderExcluir
  3. Boa noite, Mestre!
    Interessante notar que a matemática, na minha modesta opinião, não deveria ser vista como um fim, mas, como um meio, uma ferramenta para descrever com exatidão eventos que não podem ser descritos apenas com palavras ou figuras.
    Cabe lembrar que os fundamentos do cálculo diferencial e integral foram desenvolvidos paralelamente por Newton e por Leibnitz, para a mesma finalidade: descrever os movimentos dos astros, já que ambos se dedicavam à astronomia.
    Isto vem confirmar a idéia acima: aprender a usar uma ferramenta só é realmente necessário se pretendemos usa-la para alguma finalidade!
    Saudações!

    ResponderExcluir
  4. Muito estimado Leonel,
    parece bem posto teu comentário acerca da Matemática, especialmente quando exemplificas com uso calculo infinitesimal e diferencial (com autoria disputada entre Newton e Leibniz).
    Comentei no blogue do Jair nosso comum conhecimento da ‘Silva Jardim’ aqui de Porto Alegre.
    Obrigado por teu comentário nesta edição, que inexplicavelmente entrou em circulação de maneira prematura,
    Com admiração,
    attico chassot

    ResponderExcluir
  5. Caro Chassot,

    fiquei invocado com a data dos comentários do Jair a tua resposta e a do Leonel. Como conseguiste postar os comentários antes da postagem original? O Jair e o Leonel podem estar em outra latitude, mas tu estás na mesma da postagem original.

    Deixo de lado essa dúvida técnica para adicionar a preocupação do ENEM/ENADE com o foco voltado para habilidades e competências. Enquanto focarmos o ensino/aprendizagem na avaliação de conteúdos dificilmente avançaremos no domínio do conhecimento.

    Boa segunda-feira!

    Garin

    ResponderExcluir
  6. Meu caro Garin,
    mais um mistério do blogger. Ontem pelas 19h pré-postei a blogada da segunda-feira. Primeiro ela saiu com data de 18 de setembro (daí o comentário do Jair, que respondi pensando que ele estava se referindo aquela edição acerca do desenho no ensino de ciências). ]Quando tentei corrigir a emenda saiu pior que o soneto. Ela assumiu a data de hoje, com o horário 00:03. Talvez seja por estar usando um notebook emergencial.
    Sejam estes nosso mistérios insolúveis.
    Acerca do assunto de hoje:
    Convenço-me de minha tese que ensinamos (conteúdo) de mais. Em minhas palestras recomendo ensinar menos.
    Uma boa segunda-feira
    attico chassot

    ResponderExcluir
  7. Caro professor Chassot,

    presencio em meu trabalho como professor da Ciência Química (e também de matemática) a desmotivação dos estudantes pela área científica; também pudera, um currículo que não serve para nada... ensina-se (ainda)uma carga de de termos decorebas e inúteis como isótonos, isóbaros, e de assuntos ultrapassados como "gases nobres não fazem ligações", ignorando o avanço da Ciência.
    Um abraço cordia!!!
    Dirceu Borge (candongas)

    ResponderExcluir
  8. Caro professor, estou aqui marcando a minha presença diária no seu blog. Como sempre, os seus escritos são muito valiosos. Um forte abraço! Ana Cláudia Maquiné

    ResponderExcluir
  9. Meu caro Dirceu,
    tua visitação a este blogue traz uma forte evocação do privilégio que me deste em ir falar para teus alunos em uma escola de bairro em Campo Grande, talvez há uns 10 anos.
    Apareça de vez em vez,

    attico chassot

    ResponderExcluir
  10. Muito estimada Ana Cláudia,
    tua visitação a este blogue evoca os frutuosos dias de Manaus.
    É bom tê-la aqui.
    Um afago do

    attico chassot

    ResponderExcluir