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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

29.- UMA VEZ MAIS A QUASE MAGIA DE CALENDARIOS



Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1974
A blogada de hoje está na esteira da edição de ontem. Há pelo menos duas razões para tal. Uma, a notícia insólita de algo que ocorrerá amanhã e outra colaborações de leitores à postagem de ontem.
A notícia: Os habitantes do arquipélago de Samoa, no oceano Pacífico, vão "perder" um dia de suas vidas amanhã "pulando" a sexta-feira. Aqueles de nós que já fizeram viagens que envolvam troca de fuso vivem sensações de ‘perda’ ou ‘ganho’ de tempo. Mesmo que isto é aparente, não raro nos baratinarmos. Se eu for hoje para Manaus, quando eu chegar lá terei que atrasar meu relógio em duas horas, logo ‘ganhei’ duas horas.  Quando volto, devolvo e se eu não voltar aparentemente ‘ganhei para sempre’ estas duas horas.
Muito comum conversarmos no skipe com pessoas e que estejamos em datas diferentes. “Aqui é sexta-feira, dia 30!” diz um; ou outro poderá dizer: “Estou na quinta-feira, dia 29!” Poderá acontecer que alguém saia de um local no domingo, dia 1º de janeiro e chegue ao seu destino no sábado, dia 31 de dezembro do ano anterior.
Isto está relacionado com a Linha Internacional de Data (LID), também chamada de Linha Internacional de Mudança de Data ou apenas Linha de Data; Ela é uma linha imaginária na superfície terrestre que implica uma mudança de data obrigatória ao cruzá-la. Ao cruzar a linha de data de leste para oeste soma-se um dia e ao passar de oeste para leste subtrai-se um dia no calendário.

Por conveniência, a linha de data foi posicionada no globo terrestre do lado oposto ao Meridiano de Greenwich [Meridiano que passa sobre a localidade de Greenwich (no Observatório Real, nos arredores de Londres, Reino Unido) e que, por convenção, divide o globo terrestre em ocidente e oriente, permitindo medir a longitude. Serve de referência para calcular distâncias em longitudes e estabelecer os fusos horários. Cada fuso horário corresponde a uma faixa de quinze graus de longitude de largura, sendo a hora de Greenwich chamada de Greenwich Mean Time (GMT)], mas localiza-se, na verdade, próxima ao meridiano 180. Há discrepâncias no seu desenho a fim de atender a diversos fatores geopolíticos, satisfazendo territórios que de outro modo se posicionariam parcialmente a leste ou oeste.
A linha de data é um argumento central no livro A Ilha do Dia Anterior, de Umberto Eco, que mostra um protagonista repousando num navio próximo a uma ilha do outro lado da Linha Internacional de Data. Incapaz de nadar, o personagem incorre em especulações físicas, metafísicas e religiosas acerca da Linha de Data.
"Meia-noite de sexta-feira, aqui no navio, é meia-noite de quinta-feira na ilha. Se da América para a Ásia viajas, perdes um dia; se, no sentido contrário viajas, ganhas um dia: eis o motivo por que o [navio] Daphne percorreu o caminho da Ásia, e vós, estúpidos, o caminho da América. Tu és agora um dia mais velho do que eu! Não é engraçado?"  
Antes de Eco, o fenômeno da mudança de data foi explorado por Júlio Verne em "A Volta ao Mundo em Oitenta Dias" [comentado aqui nesta semana, ante a dificuldade de mandar a tempo um parecer] em que Phileas Fogg retorna a Londres após uma viagem ao redor do mundo. Viajando no sentido contrário de Fernão de Magalhães, o viajante pensa estar num dia posterior à data verdadeira.
É esta a explicação para que vai ocorrer amanhã: os habitantes do Estado Independente de Samoa, no Oceano Pacífico, vão “perder” um dia de suas vidas, “pulando” a sexta-feira. O pequeno país de 2.831 km² na Oceania vai mudar de fuso no calendário, migrando para o outro lado da chamada Linha Internacional da Data, que marca a mudança de um dia para outro. 
 A modificação visa colocar o país em sintonia com os importantes parceiros comerciais Austrália e Nova Zelândia. No fuso horário tradicional, quando é sexta-feira para os 180 mil habitantes de Samoa, já é sábado na Nova Zelândia.
No fuso horário tradicional, o arquipélago, por exemplo, "perde" dois dias uteis, porque quando é sexta para os 180 mil habitantes de Samoa, já é sábado na Nova Zelândia, por exemplo. Isso porque o arquipélago está à oeste da linha imaginária da data, enquanto os seus vizinhos de continente estão à leste.
A configuração internacional de fusos horários deixa o arquipélago na bizarra situação de estar mais próximo de Brasília em comparação com os vizinhos de continente.
Tomando como exemplo o horário de 20h34 desta quinta-feira na capital brasileira, já são 9h43 da sexta-feira na capital australiana, 11h44 do mesmo dia em Auckland, na Nova Zelândia, mas ainda é meia-dia e meia desta mesma quinta-feira em Apia, capital do arquipélago. Feita a mudança, o país deve ficar somente três horas a frente dos australianos e apenas uma dos neozelandeses.
Agora, depois de uma explicação, a uma notícia no mínimo insólita [um pais ter seu dia de amanhã suprimido] algo das contribuições dos leitores às análises do convencional do tempo e dos calendários:
#1) o polímata Paulo Marcelo Pontes desde Recife sugere o sítio http://www.superdicas.com/milenio/calendar.asp que tem excelentes dados de vários calendários atuais e inclusive de alguns históricos, como o ‘calendário da revolução francesa’. Há explicações sobre calendários: sideral, solar, lunar, lunissolar  e também sobre os dias da semana.
#2) o teólogo gaúcho Norberto Garin escreve: “quem quiser caminhar um pouco mais na reflexão sobre o tempo enquanto convenção social/humana, pode dar uma olhada no livro de Norbert Elias, "Sobre o Tempo", ZAHAR, 1998 (tem uma edição em e-Book) - é o melhor material que já li sobre esse tema”.  Encontrei este em http://pt.scribd.com/doc/35119709/Norbert-Elias-Sobre-o-Tempo, mesmo sendo uma edição com muitos comentários de um leitor muito crítico em apenas uma espiadela encontrei frutuosos comentários.
#3) já o sociólogo Daniel Cardoso de Curitiba, traz uma sugestão fílmica:  recentemente saiu no cinema trata-se de "O preço do amanhã" em inglês "In time" que teve o roteiro escrito pelo mesmo autor do filme "Truman show". Este filme traz maravilhosas reflexões acerca do tempo, como um fenômeno social.
Um comentário como encerramento: Edições como esta em que se traz contribuições de leitores, a meu juízo, respondem a função disseminar o conhecimento eu poderia ser atribuída a um blogue, Temos que convir que, mesmo com a fantástica agilidade dos robôs googleanos, estas dicas dos leitores são muito preciosas.
A propósito: amanhã teremos uma edição que se fará com contribuição de um leitor. Aguardem e, até então.

4 comentários:

  1. Caro Attico,

    foi bastante proveitosa tua blogada de hoje! Essa conexão com os movimentos mundiais nos leva a não só estar no mundo, mas com o mundo, como diria Paulo Freire.

    É ainda importante frisar o conceito de longitude, tão importante para as navegações, que foi resolvido por um relojoeiro inglês - e por isso Greenwich é o meridiano zero. Antes desse conceito os navegantes sabiam estimar a latitude que se encontravam pelo ângulo de altitude da estrela polar (no hemisfério norte) ou pelo Cruzeiro do Sul (no hemisfério sul), mas não sabiam quanto a oeste ou a leste estavam de determinado ponto.

    Abraços,

    PAULO MARCELO

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  2. Caro Chassot,
    Interessantíssima blogada. Como aviador estou bem familiarizado com essas sutilezas convencionadas para adaptar o movimento da Terra às nossas necessidades de navegação e relacionamento. Fico grato a você pela bela explanação e pela erudição. Abraços, JAIR.

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  3. Caro Chassot,

    o tema do tempo sempre me atrai; acho que vivo duelando com as minhas reflexões sobre a realidade/virtualidade do tempo. Obrigado por referires o meu comentário em teu blog. Vamos continuar parceiros.

    Um abraço quando já nos aproximamos das últimas duas folhinhas do calendário do tempo, aquele criado por nós mesmos para nos organizarmos cronologicamente.

    Garin

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  4. Bom dia, Mestre!
    Sem trocadilhos: uma blogada magistral!
    Me fez lembrar o final de uma das mais fascinantes histórias que eu já li: A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS.
    Eu também lembro das noites longas quando me deslocava do Rio para...Porto Velho, por exemplo.
    Pena que a gente perdia o tempo ganho ao voltar...
    Abraços!

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