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sábado, 16 de março de 2013

16.- EM CONCLAVE (QUASE) PERMANENTE



Ano 7***    Frederico Westphalen/Porto Alegre   Edição 2418
Depois de minha jornada na URI de Frederico Westphalen já estou voltando. Esta manhã tenho mais uma atividade do Seminário ‘Educação e Inclusão no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão do Centro Universitário Metodista do IPA.
A dica sabática vem na esteira do megashow midiático desta semana: a escolha de Francisco. Encontrei um conto, atribuído a J.J. Celsius. Suponho ser um pseudônimo, pois não localizei nada sobre o autor. O original é italiano e a tradução é minha e do Google; muito mais dele. Eu talvez tenha deixado alguns vestígios usual em tradução livre. O conto é trazido aqui com votos de um muito bom sábado.
EM CONCLAVE (QUASE) PERMANENTE: Poderia ser, em 52 anos de uma intensa (e secreta) vida amorosa, a última vez que viviam o estar juntos carnal. Micaela, mesmo tendo se produzido como nunca, estava muito nervosa. Vincenzo, há uma semana destaque na imprensa italiana, estava muito nervoso.
 Uma e outro, já setentinhas, tiveram, nesta noite do último domingo de outubro de 1958, orgasmos maravilhosos. Agora sorviam um espumante e evocavam primeira vez que fizeram amor. Tinham expectativas de aproveitar muito ainda desta noite. ‘Tinham precisão’ de expandir por horas este ápice desta, talvez última, relação amorosa. Esta, também proibida, como todas em mais de meio século.
Era primavera de 1906, Vincenzo, 21 anos, estudante de filosofia do seminário dominicano de Viterbo. Os seminaristas, então, usavam batina. Micaela, 17 anos, era aluna das monjas de Santo Agostinho. Estava seduzida a abraçar a vida religiosa.
Micaela encantou-se com a presença de um jovem seminarista que viera dar catequese em sua escola. Depois da preleção de Vincenzo, disse-lhe que gostaria de conversar acerca de sua direção espiritual. Foi um frutuoso encontro em todos sentidos. Conversaram o suficiente para se apaixonar
Anoitecia. Deixam a escola quase vazia. Ele pedalando sua bicicleta. Ele, sentada banco do carona quase ocultada por uma batina esvoaçante. No primeiro ermo, esta é retirada e alojada na sacola escolar de Micaela.
Foram a uma casa da tia de Micaela, da qual ela tinha a chave quando a tia viajava. Os dois tiveram então a primeira vez. Ou melhor, algumas ‘primeiras vezes’. Ele e ela descobriram algo que não imaginavam existir.
Um voltou para o seminário e outra voltou para sua casa. Ambos rezaram ‘atos de contrição’ pedindo perdão por pecarem contra o sexto mandamento e contabilizavam as horas que faltavam para o sonhado reencontro na casa de tia Emília, que afortunadamente seguia viajando.
Houve durante mais de cinco anos encontros semanais em um modesto quartinho no qual tia Emília escondia os ‘Abelardo e Heloisa’ italianos. Estavam cada vez mais apaixonados um pelo outro. Faziam descobertas maravilhosas na arte de fazer amor.
Vincenzo terminou a filosofia. Depois fez teologia. Ordenou-se sacerdote tomando o hábito preto e branco, com o nome de Frei Estevão OP. Além de professor de teologia no convento dominicano, faz jus ao carisma de sua ordem, tornando-se um pregador de destaque, convidado de várias dioceses para pregar, especialmente para ordens religiosas e leigos universitários da Ação Católica.
Paralelamente torna-se reconhecido confessor. Afluem penitentes da Itália e do exterior, que esperam longas filas, para ouvir seus conselhos, receberem severas admoestações e penitências e conseguir absolvição. Sua fama chega à cúria romana e no final dos anos quarenta torna-se confessor de Pio 12. Era famoso vê-lo chegar de Lambreta, todas as sextas-feiras ao Vaticano para atender confissões. A chegada ao episcopado foi natural; aos 36 anos dom Estevão OP era bispo coadjutor-curial. Recebeu o chapéu cardinalício em consistório presidido por Pio 12, no dia de Pentecostes, nas celebrações do Ano Santo de 1950.
Micaela desistiu de ser freira. Diplomou-se em enfermagem, especializando-se em pediatria. Trabalha no Hospital dos Santos Inocentes em Roma e é catedrática de enfermagem pediátrica na Universidade de la República Italiana. Autora de dois best-sellers na sua especialidade é chamada para conferências em vários países.
Para justificar sua opção pelo celibato fez votos como professa leiga da congregação das Servas da Imaculada, vestindo assim um discreto hábito da cor do véu de Nossa Senhora com uma cruz pendente e um véu indicando sua opção pelo voto de virgindade.
Micaela e Vincenzo, mesmo com carreiras tão brilhantes não deixam de amar-se lindamente agora já há mais de 50 anos. Dos direitos autorais de livros e salários no hospital e na universidade Micaela doa cerca da metade a sua congregação. Com a outra parte comprou e mantem um lindo apartamento em discreto conjunto residencial na região de Campidoglio, onde a garagem para dois carros está estrategicamente junto a elevador ‘no-stop’ para levar dom Estevão em trajes civis, portando uma máscara importada que o faz irreconhecível, direto ao ninho de amor.
Desde que há anos Micaela montou o apartamento, estando os dois em Roma, não importando agendas noturnas, os dois se encontram como jovens apaixonados pelo menos duas ou três vezes por semana. Fazem amor sem culpa, pois dizem que foi Deus que fez os amores impossíveis e se Ele presenteia destes a seus filhos é para que eles se regalem. E Micaela e Vincenzo sabem regalar-se.
Muitos jogos sexuais são apimentados por sessões chamadas de ‘oitiva de confessionário’ quando, sem relatar o penitente — logo sem ferir o sigilo sacramental — são descritos pecados. As violações ao sexto mandamento são pícaras, especialmente os pecadilhos de freiras narrando ‘sentirem gozo’ prolongam a passagem da mão em certas regiões, sob a camisola quando do banho ou de religiosos que sentiram prazer ao sacudir, mais intensamente, o pênis após o urinar. Claro que havia pecados escabrosos de incestos e de pedofilia.
Há, como em todas relações conjugais tensões, em geral decorrente de ciúmes. Aquele médico que fez galanteio à enfermeira ou a freirinha que atiça com olhares lânguidos ao contrito pregador de retiro. Tudo isso dá azo a sensacionais noites amorosas, em quarto cuidadosamente impermeabilizado a sons, pois vizinhos certamente reclamariam de gatos copulando ao luar romano.
Mas neste quase ocaso de outubro de 1958 vivem uma noite amorosa muito tensa. O longo papado de Pio 12, iniciado em março de 1939 está encerrado. O papa tido como herói por ocasião da Segunda Guerra morrera no começo do mês em Castel Gandolfo, aos 86 anos.
A sede já estava vacante há mais de duas semanas. Morrera um papa romano — o primeiro em mais de dois séculos — e o cardeal dom Estevão, nascido em uma mansão nas escarpas do Quirinal era um romano da elite, muito cotado a sucessão.
Por isso nesse encontro amoroso havia também tensão. Sabiam que, se o Espirito Santo inspirasse os cardeais a escolher Dom Estevão, provavelmente esta seria a última vez dos dois juntos na cama, pois o papa é um prisioneiro do Vaticano e Micaela jamais fori à cúria romana. Houve, depois do intervalo com espumante que sucedeu a primeira cópula,  uma última, ainda mais uma e depois outra. Parecia a primeira vez, na casa da tia Emília. Era difícil parar.
No começo da aurora, Vincenzo despediu-se de Micaela. Micaela despediu-se de Vincenzo. Choravam. Horas depois, na basílica começou a missa ‘pro eligiendo Romano Pontífice’ seguida do enclausuramento de Dom Estevão com o colégio cardinalício na capela Sistina. Para Micaela iniciava a maior experiência de mistério.

Três dias depois. Micaela era uma, entre milhares de fiéis, que se excitava com o surgimento da fumaça branca depois de já três vezes fumaça preta. Surge o cardeal protodiácono o francês esquelético — havia um que não tinha abdome rotundo dentre aqueles que já tinham selado o futuro da mais emocionada da Praça de São Pedro — Pierre Paul Labouriou, para o grande e esperado anúncio. Ela sente as forças debilitarem-se. “Habemus Papam”.
Micaela sente-se taquicardíaca. Annuntio vobis gaudium magnum: Habemus Papam: Eminentissimum ac reverendissimum Dominum Sanctæ Romanæ Ecclesiæ Cardinalem  Dom... Micaela dá um grito lancinante.  Tomba desfalecida e é ferida pela multidão...

6 comentários:

  1. Beato Chassot,

    excelente a narrativa pontifícia! Muito estimulante.
    Dá vontade de ler mais.
    Lembrei-me do Papa Borgia e sua Giulia Farnese...
    Abraços apostólicos,
    Guy

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  2. A narrativa traz a baila um dos maiores absurdos da Igreja Católica, a imposição do celibato. Somos humanos, e impor ao indívíduo uma condição tão contraria a sua natureza é dar vazão as mais variadas situações conflitantes. Mas, ao ler o conto, impossível não formular o pensamento: "A vida imita a arte?"

    abraços

    Antonio Jorge

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  3. Limerique

    Não há como encontrar qualquer nexo
    Neste assunto por demais complexo
    Religiosos se masturbando
    Quando não estão rezando
    Porquanto estão privados de sexo.

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  4. Ao Mestre Chassot. O episódio tem causado problema no Clero. De acordo com o jornal britânico The Sunday nos últimos 30 anos, estima-se que cerca de 150 mil homens tenham desistido do Sacerdósio para se casar,e muitos deles estaria dispostos a voltar a batina desde que casados. Na minha opinião o casamento não deveria separá-los da sua vocação. Eu digo êles trazem experiência reais de vida em família,acho que são excelentes para pregar para as mulheres. " Só quem ama conhece a Deus " já nos diz São João. um abraço Ley

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  5. Caríssimo Mestre, apenas repito o que já foi dito em tempo já ido, contudo, sempre atual: "Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode supor nossa vã 'Filosofia'". Significativo esse conto. Grande abraço.

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    1. Meu muito querido colega e amigo Prof. Cassol,
      Neste conto, eu, travestido de J J Celsius, alio-me às denuncias dos escândalos sexuais na igreja de maneira pícara,
      Cm estima e admiração
      attico chassot

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