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sábado, 15 de fevereiro de 2014

15.— MORREU STUART HALL


ANO
 8
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EDIÇÃO
 2684
                                              
Morreu nesta segunda-feira, dia 10 de fevereiro, aos 82 anos, o sociólogo e teórico da cultura Stuart Hall, a quem chamavam “o avô do multiculturalismo”. De origem jamaicana, mas radicado no Reino Unido desde 1951, Hall influenciou o debate acadêmico e político na esquerda britânica ao longo de mais de meio século e foi um dos grandes responsáveis pelo acolhimento universitário dos estudos culturais, bem como pelo alargamento da disciplina às questões de raça e gênero.
“A obra de Stuart Hall influenciou várias gerações de teóricos da cultura e da política, incluindo a atual” e “as suas análises continuam ainda hoje a ser profundamente importantes quer para acadêmicos, quer para ativistas políticos de esquerda”, afirmou o sociólogo e teórico da comunicação Peter Golding, responsável pelas áreas de investigação e inovação na universidade inglesa de Northumbria.
Para o historiador Geoff Eley, Hall “foi o pensador crítico mais importante da esquerda que emergiu da efervescência dos anos 1960 e 1970”. Também numa declaração escrita, o professor da universidade estadunidense de Michigan disse que Hall “combinou de modo muito lúcido” as “mais difíceis áreas da alta teoria”, o “senso comum”, o “alcance visionário”, a “precisão da análise política contemporânea” e “um espírito excepcionalmente generoso em todas as formas de comunicação”.
O impacto da obra de Hall, e em particular os seus textos sobre questões de raça, gênero, sexualidade e identidade, ultrapassou largamente os círculos acadêmicos. E o mesmo se pode dizer dos seus estudos dos anos 1970 sobre discursos dos meios de comunicação social, que mostraram as ligações entre mídia e preconceito racial, como Encoding and Decoding in the Television Discourse (1973).
Este último tinha por base “uma tentativa inovadora de começar a teorizar a produção, a circulação e a recepção de ideias, imagens e significados gerados no seio dos meios de comunicação de massas contemporâneos”, explica Geoff Eley, “à medida que são recebidos e negociados por indivíduos e coletivos”.
Nos anos 1980, foi um dos principais colaboradores do jornal Marxism Today, cuja crítica do thatcherismo influenciou líderes trabalhistas como Neil Kinnock ou Tony Blair, mas nos últimos anos mostrava-se cada vez mais pessimista em relação à esquerda britânica e ao Partido Trabalhista em particular. Numa entrevista dada há dois anos ao diário The Guardian, afirmava: “A esquerda está em apuros: não tem ideias e não tem uma perspectiva própria e autônoma”.
Nascido em 1932 em Kingston, no seio de uma família jamaicana de classe média, Hall mudou-se com a mãe para o Reino Unido em 1951, tendo estudado, como bolsita, na universidade de Oxford. Socialista, esteve ligado, com outros intelectuais marxistas.
 “Ele era um professor extraordinário — não apenas na sala de aula, no auditório e no mundo institucional da universidade, mas no sentido mais amplo da pedagogia pública e política”, sublinha Geoff Eley. O “espírito de amplo calibre” e o ecletismo colocaram-no “acima dos debates muitas vezes ásperos e destrutivos entre a esquerda intelectual”.
Eley lembra que Hall era capaz de “pensar simultaneamente dentro de uma ampla variedade de tradições de pensamento contemporâneo, demonstrando ao mesmo tempo e de forma concreta o valor de tentar construir e sustentar uma conversa não-sectária”.
Apesar da aposentadoria, continuou suas atividades públicas na Inglaterra e no exterior, onde seu trabalho tinha repercussão crescente. Esteve no Brasil em 2000 para uma série de conferências e teve traduzida a coletânea de ensaios “Da diáspora — Identidades e mediações culturais” (Editora UFMG, organização de Liv Sovik) e o livro “A identidade cultural na pós-modernidade” (DP&A Editora).
Em 2013, John Akomfrah realizou um documentário sobre a vida de Hall e o seu legado intelectual, intitulado The Stuart Hall Project. Stuart Hall deixa viúva a historiadora Catherine Hall.
Apoiado em http://www.publico.pt/cultura/noticia/stuart-hall

4 comentários:

  1. Professor Chassot,
    Como estudiosa de estudos multiculturais, soube, pelo seu blogue, da morte daquele que mais tenha contribuído no meu doutorado no ensino das Ciências!
    Obrigado pela sua continuada parceriA

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  2. Limerique

    Falece sociólogo e teórico genial
    Que ao brilhantismo somou grau
    Lutou pela igualdade
    Vamos sentir saudade
    Do fecundo e humano Stuart Hall.

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  3. Todos temos uma historia de vida para contar, mas inegavelmente alguns de nós mudam e norteiam o curso dos acontecimentos. Morre o sociólogo, mas suas teses são eternas. Como se diz, "não veio aqui a passeio"...

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  4. Uma grande perda, sem dúvida. Ficam as ideias, suas obras. Estas, para a eternidade.

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