TRADUÇAO / TRANSLATE / TRADUCCIÓN

terça-feira, 10 de março de 2015

10.- FEYERABEND, O ANARQUISTA EPISTEMOLÓGICO


ANO
 9
EDIÇÃO
 3015

Recebi uma consulta de um colega:
Professor, ao ler uma citação de Paul Feyerabend (1924-1994), presente em Contra o Método: “...dada uma regra qualquer, por ‘fundamental’ e ‘necessária’ que se afigure para a ciência, sempre haverá circunstância em que se torna conveniente ignorá-la, ou até adotar regra oposta. [...] Qualquer ideia, embora antiga e absurda, é capaz de aperfeiçoar nosso conhecimento. [...] o conhecimento de hoje pode, amanhã, passar a ser visto como conto de fadas; essa é a via pelo qual o mito mais ridículo pode vir a transformar-se na mais sólida peça da ciência” (FEYERABEND, Paul. Contra o método. São Paulo: Editora da Unesp.2007, p. 71) ocorreu-me perguntar: o senhor teria um exemplo de um saber mitológico ou de conto de fadas que hoje ou em algum tempo atrás foi tido como ciência?
Estimado Claiton, assentas teu questionamento em texto de Feyerabend  que é lapidar para entendermos  como ‘o anarquista epistemológico’ verbera contra os dogmas da Ciência.
Vale ouvirmos autor de obras que foram decisivas para novas concepções de Ciência além da discutidíssima Contra o método. Ele destaca em outro texto que “a distinção entre Ciência e mito não é tão evidente” [LE MONDE. Ideias contemporâneas. (Entrevistas diversas). São Paulo: Ática p. 51]. Há, assim, uma necessidade de revermos marcos que usualmente definem o início da chamada Ciência Moderna.
Busquei, na tentativa de responder a teu questionamento, exemplos para cada uma das duas situações que ele destaca no excerto que trazes. Nem sempre temos exemplos simples ou de alcance de um público mais amplo, como teus alunos da graduação.
 o mito mais ridículo pode vir a transformar-se na mais sólida peça da ciência
Há não muito tempo a acupuntura (no Ocidente) era considerada uma prática charlatã. Quem a praticasse poderia ser levado a prisão. Hoje, é uma especialidade médica, reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina. Mais, os médicos avocaram a si a exclusividade de pratica-la. fisioterapeutas, terapeutas ocupacional, dentistas, enfermeiros etc.  Poderia se mostrar, numa direção contrária, a involução no uso da homeopatia.
o conhecimento de hoje pode, amanhã, passar a ser visto como conto de fadas
Vale olhar, por exemplo, as explicações de fecundação apresentadas por Aristóteles e as explicações atuais. Aquelas parecem ‘histórias da carochinha’. Agora um exemplo não tão trivial. Ensinava-se (e eu ensinei isso) que “Gases nobres não poderiam formar compostos” Linus Pauling recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1954 "pelas suas investigações sobre a natureza da ligação química e suas aplicações na determinação da estrutura das substâncias complexas". Em 1962, Neil Bartlett preparou um dos primeiros compostos de gases nobres, hexafluoroplatinado de xenônio Xe+[PtF6]. Isto contradisse os modelos estabelecidos sobre a natureza da valência, acreditava-se que todos os gases nobres fossem totalmente inertes a qualquer combinação química. Ele subsequentemente produziu e reproduziu vários outros fluoretos de xenônio: XeF2, XeF4, e XeF6.
No aguardo de novos questionamentos.

2 comentários:

  1. Feyerabend, por Chassot, faz suscitar algumas reflexões como: _A inexistência de verdades absolutas;O desmoronamento das certezas; _De que não se pode menosprezar determinados conhecimentos apenas pelo fato de que os mesmos não tenham passado pelo crivo da "ciência oficial"; Enfim, quem é dono da verdade? Mas o que é verdade? A ciência não se guia, em tempos de supremacia do capital, pelo mercado? Pois, parece que certas verdades são convenientes...
    Grande abraço!!!

    ResponderExcluir
  2. Feyerabend, por Chassot, faz suscitar algumas reflexões como: _A inexistência de verdades absolutas;O desmoronamento das certezas; _De que não se pode menosprezar determinados conhecimentos apenas pelo fato de que os mesmos não tenham passado pelo crivo da "ciência oficial"; Enfim, quem é dono da verdade? Mas o que é verdade? A ciência não se guia, em tempos de supremacia do capital, pelo mercado? Pois, parece que certas verdades são convenientes...
    Grande abraço!!!

    ResponderExcluir