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terça-feira, 29 de setembro de 2015

29.- NÃO É SÓ TAMANHO QUE FAZ DIFERENÇA


ANO
 10
A G E N D A  em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3087

Setembro quase termina. Neste dia de São Miguel temos, uma vez mais ‘as enchentes de São Miguel’, que lembro desde minha infância. Domingo foi o 12º dia consecutivo de chuvas aqui. Ontem foi um dia de sol esplendoroso, que se seguiu a uma madrugada de um plenilúnio quase inenarrável.
Mas o assunto desta blogada não são narrativas climatológicas. O assunto é mais complexo e muito importante. Até porque tamanho faz diferença.
Ontem, à noite, ocorreu a 5ª das oito sessões do Fronteiras do Pensamento 2015. Fomos brindados com uma noite de segunda-feira excepcional. Dentre os nove conferencistas (três mulheres e seis homens) deste ano a fala foi do único conferencista brasileiro: a neurocientista Suzana Herculano-Houzel (Rio de Janeiro 1972). Não foi sem razão que o apresentador e quem conduziu o diálogo com a conferencista foi o neurocientista e Reitor da UFRGS Carlos Alexandre Neto.
Suzana Herculano-Houzel, Foto: James Duncan Davidson / TED
Suzana é bióloga formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro é autora de vários livros de divulgação científica sobre neurociência [O Cérebro Nosso de Cada Dia (Vieira & Lent, 2002); Sexo, Drogas, Rock and Roll... & Chocolate (Vieira & Lent, 2003); O Cérebro em Transformação (Objetiva, 2005); Por que o Bocejo É Contagioso? (Jorge Zahar Editor, 2007); Fique de Bem com seu Cérebro (Sextante, 2007) e Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor (Sextante, 2009)]. Possui pós-doutorado pelo Instituto Max-Planck de Pesquisa do Cérebro na Alemanha, doutorado pela Universidade de Paris VI na França e mestrado na Universidade Case Western Reserve nos Estados Unidos. Em seu trabalho, analisa como os conhecimentos gerados pela neurociência a respeito dos seres humanos podem ser aplicados na vida diária. Foi a primeira brasileira a falar na conferência internacional TED Global.
Sua pesquisa sobre o número de neurônios que o cérebro humano possui ganhou destaque internacional. A abordagem envolveu a dissolução de quatro cérebros doados à ciência em uma mistura homogênea, chamada de “sopa cerebral". A partir de uma amostra da mistura, contou e classificou a quantidade de núcleos celulares pertencentes aos neurônios. Sua conclusão foi de que o cérebro humano possui 86 bilhões de neurônios, ou seja, 14 bilhões a menos do que se acreditava anteriormente.
Mais detalhes em http://www.fronteiras.com/portoalegre/conferencia/ suzana-herculano-houzel
Suzana Herculano-Houzel é, desde 2002, professora na UFRJ, onde dirige o Laboratório de Neuroanatomia Comparada do Instituto de Ciências Biomédicas, no qual lidera uma equipe com colaboradores em vários países e pesquisa as regras de construção do sistema nervoso central em humanos e outras espécies. Também é colunista do jornal Folha de S.Paulo e da revista Scientific American Mente & Cérebro. Em 2000, lançou o site O cérebro nosso de cada dia. É scholar da Fundação James McDonnell, onde foi a primeira brasileira a receber o Scholar Award para financiar sua pesquisa. Pesquisadora do CNPq, em 2004 recebeu da instituição a Menção Honrosa do Prêmio José Reis de Divulgação Científica.
A pesquisadora brasileira sugere que foi a invenção do cozimento pelos nossos antepassados que permitiu aos seres humanos desenvolverem o maior cérebro dos primatas, pois o alimento cozido produz mais energia metabólica. Atualmente, suas pesquisas estão concentradas em cérebros de elefantes e baleias.
A palestrante da noite de ontem, que discorreu sobre as diferenças entre o cérebro humano e o de outras espécies, considerando o tamanho, o número de neurônios e as capacidades cognitivas, concedeu extensa entrevista a Larissa Rosso que está publicada no caderno PrOA da Zero Hora deste domingo. Trago apenas a última pergunta que diz muito a cada uma e cada um de nós: O estresse intenso maltrata o cérebro? Os cérebros de hoje são “piores” do que os de outros tempos?
A tecnologia não é ruim, assim como o estresse não é ruim. Ruim é o mal uso que a gente faz do que tem, das possibilidades, da quantidade de coisas que tem que conseguir resolver todos os dias. Hoje temos como resolver mais de um problema por dia. A gente deveria fazer isso? Acho que não. Você cobra muito mais de si mesmo, acaba exigindo tanto de si que perde a sensação de controle, e é aí que o estresse deixa de ser bom. O estresse pode ser extremamente saudável, positivo e trazer prazer inclusive, mas tem que ser aquele estresse que você se propõe. É a sarna que você arranja para se coçar. A diferença toda é a sensação de controle. Enquanto você domina a situação e a sua vida, todos esses problemas para resolver são ótimos. O ruim é quando você perder a sensação de controle. Aí o estresse passa a ser crônico. Esse é ruim.
A conferencista ao final rendeu homenagens a cozinha e aos livros, destacando o quanto o ler e o escrever são atividades importantes e muito significativas do cérebro.

sábado, 26 de setembro de 2015

26 Mais uma vez na simpática Blumenau


ANO
 10
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3086

Hoje é um sábado no qual, pela manhã, com o Jose Clovis de Azevedo, tenho mais uma sessão do seminário “Reabilitação e Educação” no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. Então, será central a apresentação de resultados das leituras dos mestrandos acerca da encíclica Laudato Si’. Há muita expectativa. Organizei idêntico trabalho com alunos da Pedagogia e Licenciaturas de Educação Física e Música na disciplina Ética, Sociedade e Meio Ambiente. Houve produções muito significativas. Em todas as minhas últimas falas a Laudato Si’ se faz prelúdio significativo.
Nesta blogada, trago excertos do ‘dia de um viajor’. Aqueles que me acompanham um pouco mais de perto, talvez sintam um rarear das viagens. Em nome de um dito ‘contingenciamento de despesas’ palestras são transferidas e/ou canceladas.
Ontem, fui a Blumenau a convite do curso de Licenciatura em Química do Campus da UFSC de Blumenau. Viajei pela manhã a Navegantes, em um voo de 45 minutos. Após, por uma hora, fui de ônibus até simpática metrópole do vale do Itajaí, com mais de 330 mil habitantes e de marcado estilo germânico. Fiz duas falas com o mesmo mote: ASSESTANDO ÓCULOS PARA OLHAR O MUNDO na FURB, à tarde e na UFSC à noite. Ainda, à noite retornei de ônibus a Porto Alegre, em uma extensa viagem de mais de 10 horas (com muitas paradas em rodoviárias, engarrafamentos e 2x25 minutos para lanche). Optei por voltar de ônibus para estar nas aulas desta manhã no Centro Universitário Metodista do IPA.
A Universidade Regional de Blumenau (FURB) é uma instituição pública municipal que iniciou em 1964 e foi reconhecida como universidade em 13 de fevereiro de 1986. Atualmente conta com 47 cursos de graduação, 120 cursos de especialização (lato-sensu), 11 mestrados, 3 cursos de doutorado e aproximadamente 15 mil alunos, em diversos níveis de ensino e com umas das maiores bibliotecas da Região Sul do Brasil, com um acervo de mais de 300.000 volumes.
No meu estar na FURB fui acolhido pelos colegas Prof. Dr. Edson Schroeder e Profa. Dra. Daniela Tomio, com quem almocei. Os saberes com sabores deste almoço, por si só, valeram ter feitos esta viagem. A tese de doutorado da Daniela foi sobre a extensa troca de correspondência de Fritz Müller (de Blumenau) e Charles Darwin. No retorno já me deliciei com a tese que me foi presenteada. O Edson é um biólogo que estuda russo para poder ler Bakhtin na fonte. Um almoço para fazer saudades.
À tarde desenvolvi discussões acerca da Ciência com alunos de dois mestrados e alunos de licenciaturas da FURB e professoras e professores da rede pública, onde se destacava uma delegação vinda da Cidade de Gaspar. Foram momentos significativos.
Minha presença na Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Blumenau teve como anfitriões o Prof. Dr. Aldo Sena de Oliveira, Profa. Dra. Daniela Brondani e a Prof. Dra. Lidiane Meier. Os três e vários colegas me acarinharam de maneira muito querida. Como não havia tempo para comer algo entre o término da fala e o estar na rodoviária para partir às 20h45min tiveram a delicadeza de obsequiar-me lanches para degustar a bordo.  
A UFSC, além de seu campus em Florianópolis, tem mais quatro campi: Araranguá, Curitibanos, Joinville e Blumenau. O de Blumenau, no Vale do Itajaí́, iniciou em 2014, com as primeiras turmas de cinco cursos: três bacharelados em Engenharia Têxtil, Engenharia de Controle e Automação, Engenharia de Materiais e duas licenciaturas em Matemática e Química.
A minha fala na UFSC, para quase 200 pessoas foi para alunos e professores das licenciaturas. Como na FURB encantou-me um auditório muito participativo. Muitas fotos e autógrafos, detalhes inerentes da tietagem ocorreram nas duas universidades. Valeu muito ter voltado a Blumenau.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

22.- SOBRE SER OBJETO


ANO
 10
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3085

                Esta manhã chuvosa de terça-feira se faz, de maneira repentina, muito triste com a chegada da notícia da morte da grande educadora Beatriz D’Ambrosio, filha dos queridos Maria José e Ubiratan D’Ambrosio.


No dia 3 de agosto, quando assisti a Valter Hugo Mãe, no Fronteiras do Pensamento ouvi algo que caiu naquela coxia do cérebro que, de vez em vez, se faz presente a uma espiadela. O escritor português contou que, com muita frequência é perguntado por que não faz doutorado em literatura. Disse em sua resposta: sou objeto de teses, como iria conviver na Academia com aqueles de quem sou sujeito.
Não sei explicar as razões pelas quais a resposta me fez interrogante. Posso assegurar que, desta vez, não pequei por inveja, algo muito frequente em mim quando ouço acerca de sucesso de escritores.
Na manhã desta terça estou numa banca de qualificação de Daniela Regina Resende no Programa de Pós-Graduação: Processos Socioeducativos e Práticas Escolares, do Departamento de Ciências da Educação da Universidade Federal de São João del-Rei. A Daniela, orientanda do Professor Dr. Paulo César Pinheiro, traz a exame “A interação de professores com as narrativas híbridas do sítio Ciência na Comunidade: efeitos e desdobramentos”.
Por estas maravilhas da tecnologia (e também por um dito contingenciamento de despesas que encolhe as universidades) não estarei, fisicamente, naquela cidade que desde abril de 1985, me evoca um pedreiro em um interminável fechamento tumular, quando do sepultamento de Tancredo Neves. A banca ocorrerá por Skype ou pelo Facebook.
Há de se perguntar qual a conexão da observação de Valter Hugo Mãe com a proposta de dissertação da Daniela. Surpreendeu-me já a leitura do sumário, que está transcrito na figura ao lado. Mas, quando li a proposta me senti um pouco (bastante) sujeito de uma dissertação.
No primeiro capítulo da proposta a Daniela faz, em mais de 20 páginas, uma minuciosa análise de quatro textos meus. O primeiro é de A Educação no Ensino de Química [Ijuí: Editora Unijuí, 1990]. Talvez um dos primeiros livros de Educação Química escritos no Brasil.
Ao analisar um dos capítulos deste livrinho de 118 p. Procurando Resgatar a Química nos Saberes Populares ela escreve ‘o décimo primeiro capítulo do livro [...] é o único do livro a tratar do ensino de Química por meio de saberes populares. É um texto de seis páginas, que vem “mostrar uma linha de trabalho relativamente nova na área de Educação Química: o resgate de saberes populares”. Tudo indica que esta seja a primeira publicação em livro sobre este tema feita no Brasil’ (Proposta p. 21). Pois passado um quarto de século o tema já rendeu teses de doutorado, dissertações de mestrado, monografias de especialização, trabalhos de conclusão de cursos...
Na proposta está transcrito algo que eu escrevera na p. 104, em 1990: ‘A proposta que se defende implica na necessidade de resgatar a Química que está inserida na realidade física e social vivenciada pelos alunos (ou em outras realidades) e analisar com eles, de forma dialógica, os diferentes significados atribuídos e as diferentes formas de construção do conhecimento’ (Proposta, p. 21). Outros textos são do Alfabetização científica: Questões e desafios para a Educação (2001) e do Sete escritos sobre Educação e Ciências (2008) são analisados no primeiro capítulo.
No segundo capítulo da proposta a Daniela analise sete artigos da Revista Química Nova Na Escola de 2000 a 2013 de diferentes autores e procura nestes as ‘ideias de Chassot’. A Daniela escreve: ‘todos os sete artigos encontrados mencionam, de certa forma, a inserção dos saberes populares em sala de aula como uma prática para promover a valorização dos mesmos e a sua transformação em saberes escolares, assim como foi sugerido nos quatro textos de Chassot descritos no capítulo 1. Os artigos propõem trabalhos que, além de apoiarem a inserção dos saberes populares em sala de aula, orientam os professores na realização de práticas pedagógicas que busquem a inter-relação entre os saberes populares e os saberes formais ensinados na escola, promovendo uma mudança significativa no ensino de ciências’ (Proposta p. 49).
Trouxe apenas pequenos excertos da Proposta. Ela espraia-se por várias páginas fazendo tessituras de ideias que se vem disseminando na Educação Química brasileira. Sinto a importância de minha contribuição. Este é um orgulho que me entusiasma a continuar estes fazeres. Um agradecimento muito reconhecido ao Paulo César e à Daniela. Será bom estar com vocês esta manhã em São João del-Rey.

sábado, 19 de setembro de 2015

19.- Prelibando a Primavera


ANO
 10
Desde o Vale dos Vinhedos na Serra Gaúcha
EDIÇÃO
 3083

Esta edição sabática circula postada desde o Vale dos Vinhedos. Estamos, mais uma vez, na simpática Pousada Borgheto Sant’anna, (a foto é uma vista desde uma de suas janelas) fruindo das mordomias dos queridos Rubens  e Vanja. Eles com expertise modernizam o enoturismo nesta região. A Gelsa e eu viemos à Serra Gaúcha na tarde de ontem, acompanhados de Paola Valero e Kenneth Mølbjerg Jørgensen, pesquisadores da Universidade de Aalborg na Dinamarca. Os dois colegas, que chegaram à Porto Alegre na segunda-feira, estão ministrando cursos e um ciclo de conferências na Unisinos. Este fim de semana, nesta linda região, é também uma pequena retribuição à Paola e ao Kenneth, pelas muitas deferências que já recebemos deles em Aalborg.
Já parece ser tempo de dizer adeus ao inverno 2015 no Hemisfério Sul. Legalmente ele se encerra na madrugada da próxima quarta-feira. Mas, se há alguma desobediência a parâmetros estabelecidos em nossa galáxia, parece ser o inicio e o fim das estações que detêm a liderança.
Por estas paragens nem cabe despedir o inverno, pois este ano ele foi um quase omisso. Houve dias agosto que registraram as temperaturas hibernais elevadas como nunca havidas em 100 anos. É verdade que há uma semana tivemos temperaturas negativas em várias regiões do Rio Grande do Sul. Agora vivemos dias de prolongadas chuvas que fazem temer ‘as enchentes de São Miguel’ evocadas pela aproximação da festa do anjo guerreiro neste dia 29 de setembro. A climatologia trouxe mais novidades por estes dias: reflexos do terremoto do dia 16 no Chile se fez sentir em vários pontos do Rio Grande do Sul.
Estas não obediências pela natureza à cartilha climática influem de maneira decisiva, e não raro dolorosamente, no ciclo das plantas. Trago dois exemplos de meu bucólico paraíso doméstico. Há quase um mês para a chegada (astronômica) da primavera, a minha amoreira imponente (foto) mirando Porto Alegre do oitavo piso já estava completamente vestida de um verde viçoso, quando era ainda época de estar desnuda.
Minhas videiras (foto) este ano me surpreenderam, quando definia um fim de semana para podá-las já havia cachinhos de uvas que não podiam ser sacrificados.
Geadas que atingiram serras gaúchas e catarinenses entre o sábado (12) e a segunda-feira (14) afetarão a qualidade e a quantidade das próximas safras de frutas. Os cultivares mais atingidos foram a maçã, a uva Chardonnay e a ameixa. Se essa geada tivesse acontecido 20 dias antes, os problemas seriam muito menores. O inverno atípico também contribuiu para perdas. Os dias mais quentes em julho e agosto adiantaram a brotação, e, agora, a geada acabou congelando a flor ou a fruta jovem.
Nas macieiras da serra catarinense os danos podem ter sido menores porque elas ainda não estão em plena florada, já que as flores da maçã resistem a até -3°C. Entretanto, no último final de semana, a temperatura em algumas regiões chegou a -5°C. Entre as uvas, a Chardonnay sofre maior impacto, já que ela tem brotação precoce. As frutas de caroço também poderão ter suas safras reduzidas, especialmente a ameixa.
Mas, há uma informação astronômica que anuncia: o Início da Primavera 2015 começa às 5h20min (sem horário de verão) da próxima quarta-feira, dia 23 de setembro de 2015; e termina dia 22 de dezembro de 2015;
Quando sofremos com transtornos climáticos em uma pequena horta ou jardim domésticos, sempre há que potencializar isso para a situação de agricultores que vivem da produção. A natureza faz do êxito de muitos produtos uma quase loteria. Quantas vezes na véspera de uma colheita que se anuncia promissora, uma chuva de granizo, por exemplo, destrói tudo.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

15.- ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA, para quem?


ANO
 10
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3081

Há uma semana, a Professora Marcia Cordeiro, da Universidade Federal de Alfenas, publicou em sua página do Facebook o texto que se constitui na blogada desta terça, aditada deste comentário: É nestas horas que me lembro do querido mestre Attico Chassot e da importância da alfabetização científica, relatada em seus livros.
Dois terços dos brasileiros não entendem conceitos básicos de ciência Uma pesquisa divulgada durante a 67ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), este ano em São Carlos (UFSCar), aponta ser pequena a parcela de brasileiros que pode ser considerada cientificamente letrada – apenas 5% das pessoas entre 15 e 40 anos.
Como destaca a Fapesp, que divulga os resultados, “isso significa que apenas essa parcela foi capaz de compreender vocabulários e conceitos básicos da ciência, usados no cotidiano, como biodegradável ou megawatt, e refletir de maneira crítica sobre o impacto da ciência na sociedade”.
Realizada pelo Instituto Abramundo (uma empresa brasileira que produz materiais de Ciências para o Ensino Fundamental www.abramundo.com.br ex-Sangari) e pelo Ibope Inteligência, a pesquisa ouviu 2.002 pessoas com pelo menos quatro anos de estudo, entre março e abril deste 2015, no Distrito Federal, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Fortaleza, Salvador, Curitiba e Belém.
A partir das respostas, a pesquisa estabeleceu quatro níveis de letramento científico: ausente, elementar, básico e proficiente. O maior grupo é o letramento elementar (48%), seguido pelo básico (31%). E enquanto 16 % da população pesquisada não tem letramento científico, apenas 5% são proficientes.
Os grupos de letramento ausente e elementar indicam que quase dois terços das pessoas tem conhecimento muito restrito. Ou, como resume a Fapesp, “64% dos entrevistados tiveram dificuldade de responder a questões básicas, como, por exemplo, se compreendiam os efeitos de medicamentos que costumam utilizar”.
“Boa parte da população brasileira ainda não consegue fazer uso social da ciência, porque para isso é necessário saber ler e interpretar informações científicas”, avalia o consultor do Instituto Abramundo e professor da UFPE,  Anderson Stevens Leonidas Gomes.
De acordo com o Instituto Abramundo, os resultados podem ser considerados representativos de 23 milhões de pessoas entre 15 a 40 anos que completaram os quatro primeiros anos do ensino fundamental e que residem em 92 municípios das 9 regiões metropolitanas brasileiras.
Entre os que têm ensino superior, 48% atingem o nível básico e 11% podem ser considerados proficientes. “Nesse grupo de mais alta escolaridade há uma parcela significativa, 37%, com letramento científico apenas elementar e 4% que podem ser considerados iletrados do ponto de vista científico.”
O estudo diz que 61% dos trabalhadores não atingem o nível básico, sendo que 14% deles podem ser considerados cientificamente iletrados. “Apenas 4 em cada 10 trabalhadores das principais cidades do país têm a habilidade necessária para resolver problemas ou interpretar informações de natureza científica.”
* Com informações da Fapesp e do Instituto Abramundo

sábado, 12 de setembro de 2015

12.- A GOLEM E O GÊNIO


ANO
 10
LIVRARIA VIRTUAL em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 3080
Esta sexta e sábado, como ocorre a cada duas semanas, são os dias que me envolvo em dois seminários no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. Ontem, em companhia da Marlis Polidori, desenvolvi em “Pesquisa e Desenvolvimento II”: O que é Ciência, afinal? Na manhã de hoje, com o José Clóvis de Azevedo, temos o seminário “Reabilitação e Educação” quando será central a análise do texto: CHASSOT, Attico. Vende-se tabaco, perfume importado, Educação e camiseta de marcas, p. 67-82, in Análise dos sistemas de Educação Superior no Brasil e em Portugal. ARAUJO, C.M.M.; POLIDORI, M.M. Porto Alegre: EdiPUCRS / Editora Universitária Metodista, 2012. ISBN 978-8599738-19-1.
A blogada anterior foi catalisada pela aquisição de vieiras no Mercado Público no sábado. Hoje ainda escrevo na esteira do feriadão. Houve, então, algo que não fazia há muito tempo: devorei um livro de mais de 500 páginas, em suporte papel.
WECKER, Helene. Golen & o Gênio. Uma fábula eterna. [The Golen and the Jinni. Tradução de Claudia Guimarães]. Rio de Janeiro: Darkside Books, 2015, 528 p. ilust. ISBN 978-85-66636-48-2

Helene Wecker – que me conduziu em intrigante enredo – cresceu em Libertyville, Illinois, uma pequena cidade ao norte de Chicago. Após obter o título de Bacharel em Inglês, trabalhou como redatora de marketing e comunicação em Minneapolis e Seattle antes de decidir que queria escrever algo mais do que comunicados de imprensa. Assim, ela se mudou para Nova York para dedicar-se à escrita ficcional em mestrado na Universidade de Columbia. Ela agora vive perto de San Francisco com o marido e a filha. Seu primeiro romance, Golen & o Gênio foi publicado em 2013, que narra os confrontos e as barreiras vividas por duas culturas tão próximas, ainda que aparentemente opostas.
Em Golen & o Gênio, premiado romance fantástico que o leitor se transporta à Nova York da virada do século 20, em uma viagem fascinante através das culturas árabe pré-islâmica e judaica. Seus guias serão dois poderosos seres mitológicos.
Chava é uma golem, criatura feita de barro, trazida à vida por um estranho rabino envolvido com os estudos alquímicos da Cabala. Ahmad é um dijin, gênio, ser feito de fogo, nascido no deserto sírio, preso em uma antiga garrafa de cobre por um beduíno, séculos atrás.
Não sei se investiria tanto tempo numa leitura tão extensa, mesmo com texto tão primoroso. Mas o anúncio da quarta capa me seduziu. Aliás, mais que a quarta capa, o livro tem capas magnificas e toda a sua diagramação é muito bem produzida.
Outra sedução para ler este calhamaço é uma adesão que fiz, já há um tempo, à metáfora para Ciência, que aprendi com Colins & Pinch [COLLINS, Harry & PINCH, Trevor. O golem: o que você deveria saber sobre Ciência. São Paulo: Editora da UNESP, 2003. ISBN 85-7139-497-0], mesmo que seja polêmica, me parece adequada, dizer que a Ciência se parece mais ao Golem (Goilem), aquele ente da mitologia judaica que é descrito com um gigante de barro que desconhece sua verdadeira força e se assemelha muito a um bobão, mas que tem ações, às vezes, de sábio e outras de sabido. Também por isso, valeu ler Golen & o Gênio.