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sexta-feira, 28 de abril de 2017

28.— Memórias de um dia de greve

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28 de abril de 2017. Um dia paradoxalmente triste e alegre.
Triste por se ver a necessidade de uma significativa parcela da população brasileira precisar ir às ruas para clamar contra um governo ilegítimo e corrupto, para que este não dilapide as leis que asseguram direitos dos trabalhadores.
Alegre, pelo orgulho de se poder conviver como povo nas ruas, e maneira ordeira fazer de uma sexta-feira ensolarada outonal um espetáculo ao se bradar contra as reformas trabalhista e da previdência.
Talvez, do ponto de vista ético, o melhor seria hoje fazer greve neste blogue. Este registro, que quer ser breve, é apenas para dizer: eu, como milhões de brasileiros, estive nas manifestações e bradei “Fora Temer!”
As interpretações sobre o dia de hoje podem ser as mais dispares. O Ministro da Justiça, um pseudo-sábio, disse que consideradas as manifestações, pela sua inexpressividade quanto a participação, podem ser vistas como de apoio às reformas. Cada um vê o que a sua acuidade intelectual permite ver.
Eu participei de uma caminhada ao meio dia desde a Faculdade de Educação da UFRGS até a Esquina Democrática, na Andradas com a Borges de Medeiros. Foi emocionante. Soube, que de seis horas depois de encerrar minha participação, a passeata continuava.
Gelsa e eu, tivemos a querida companhia de Teresa Smart e Joseph Hanlon. Eles são dois pesquisadores de universidades londrinas que têm expertise em Moçambique, Cazaquistão e Bangladesh. Uma e outro, de maneira continuada, desenvolvem trabalhos na África e na Ásia, há mais de um quarto de século. Teresa e Joe já me acolheram, em mais de uma oportunidade em sua casa, localizada de maneira privilegiada próxima ao British Museum; nestes dias tenho a honra de tê-los, mais uma vez, em minha morada. A propósito vale recordar que em 11/12/2014 resenhei aqui “Galinhas e Cerveja: Uma receita para o crescimento” da autoria deles.
Assim neste registro desta memorável última sexta-feira de abril de 2017 rejubilo por ter participado da caminhada contra o reformismo insano e homenageio a dois intelectuais londrinos que catalisaram nossa presença em um verdadeiro espetáculo cívico. E há que continuar a temer Temer!

quinta-feira, 20 de abril de 2017

. 20.— Cuidado: isto pode ser ENGO®DA Lattes!

 

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Nesta véspera de feriadão, volto à UFRGS. Não vou ao Instituto de Química do qual sou professor titular aposentado, nem a Faculdade de Educação, em cujo PPGEducação fiz mestrado e doutorado. Muito menos volto ao restaurante da Reitoria (que não existe mais) no qual trabalhei no final dos anos 1950.
Vou ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Educação: Química da Vida e da Saúde (PPGQVS). Este foi organizado em 2005 em uma associação de professores do Departamento de Bioquímica (Instituto de Biociências / Universidade Federal de Rio Grande do Sul), da Faculdade de Educação (FACED / UFRGS), do Núcleo de Educação em Química (Instituto de Química / UFRGS), da Faculdade de Educação (Universidade Federal de Rio Grande - FURG) e do Instituto de Química (Universidade Federal de Santa Maria - UFSM).
No PPGQVS participo, como membro da banca, da apresentação da dissertação de Mauro Melo Costa, professor do IFAM, em Manaus. Ele com o trabalho: SISTEMATIZAÇÃO DE ESTUDO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: possibilidade a partir da utilização de roteiros de aprendizagem no ensino de Química, realizado sob a orientação do prof. Dr. José Claudio Del Pino habilita-se ao título Mestre em Educação em Ciências.
Estão também comigo na banca as professoras doutoras Andréia Modrzejewski Zuculotto, do IFRS e Rosa Oliveira Marins Azevedo, do IFAM. A apresentação pública da dissertação ocorre nesta quinta-feira, às 16h, no departamento de Bioquímica, na Rua Ramiro Barcelos, 2600, próximo ao Planetário.
Reservo meus comentários acerca do conteúdo do bom trabalho para esta tarde. Destaco aqui, pela sua originalidade, algo da forma de como foi estruturada a dissertação.
Ao se fazer a ‘Analise da dissertação’, ocorre uma surpresa: – até porque esta não é destacada nem sumário e nem no resumo — o uso de uma mais recente modalidade de edição de uma dissertação que ‘empacota’ (Wrapping papers), no caso presente, quatro artigos publicados e/ou submetidos à publicação. E isso é feito com competência e com originalidade e cada um dos quatro artigos parece guardar conexões entre si. Talvez, se devesse buscar alternativas que evitem a repetição de excertos, que estão nos diferentes artigos, aparecerem também na dissertação como, acontece em certas situações.
Comentar esta dissertação dá azo à observação que é exógena aos artigos trazidos pelo mestrando: Importante é se estar atento para que esta modalidade de apresentação de uma dissertação não se transforme em um muito provável engo®da Lattes.
Sim! Engordar e engodar o Currículo Lattes parecem ser ações simultâneas. Este exagerado engorde se faz, usualmente, com ações que envolvem engodos — como ensina o Priberam — “enganar ardilosamente”.
Há muitas situações sui generis para ilustrar algo que vem ocorrendo, mais recentemente na academia. Trago apenas dois exemplos que me são muito próximos.
O primeiro: Fulano me envia um artigo, onde sou posto como coautor, sem ter escrito (ou refletido sobre) uma linha, dizendo “hoje, à tarde, sobrou-me um tempo e escrevi o artigo anexo. Queria a sua opinião e sugestão de nome de revista para publicarmos!” Sou de tempo em que a produção de qualquer artigo tem uma exigência bovina: ‘ruminar’ na acepção de meditar, planear, cogitar...
 A segunda ilustração: ainda ontem uma colega me narrou que viu que Beltrana tem 21 artigos publicados em 2016. Lembrei-me da série das estampas Eucalol: “Incrível, porém verdadeiro”.
Sou levado a conjecturar que nem Fulano e nem Beltrana conhecem ações como maturar, meditar, cogitar. Quantidade e qualidade parece que se constituem em antônimos. Isso não é uma boa prática para Academia.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

14.—METEORA, um presente de uma estada na Grécia.

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Nesta Sexta-feira Santa, que para Gelsa e para mim terá 30 horas, já estamos em viagem de retorno. Deixamos Agria, rumo à Volos, um pouco depois das 6h. Após, fizemos uma viagem, em ônibus, de cerca de quatro horas de Volos à Atenas. É no aeroporto da capital grega, antes da longa viagem de rumo à Paris / Guarulhos / Porto Alegre, redijo essa blogada. Esse fazer é também um entretimento para mais de 33 horas de viagem.
Neste cruzar mais uma vez o Atlântico, a emoção maior desta viagem aconteceu no dia de ontem: fiz a tão sonhada viagem a Meteora. Se fosse chamado a opinar por alguém que dispõe apenas um ou dois dias para fazer a viagem de sua vida, eu diria: vá a Meteora.
Claro que, à minha recomendação faria preceder uma advertência: é preciso estar em boas condições físicas. Eu já descera 820 degraus em uma visita à mina de sal de Wieliczka, em Cracóvia; vivi uma quase tortura psicológica em Aschwitz e Birkenau; fiz escaladas na Muralha da China; caminhei quilômetros em Petra, na Jordânia. As exigências de ontem superaram a tudo. Em mais de um momento remeti, em pensamento, minha gratidão à Luciana e Márcia, co-responsáveis pelo minha preparação física.
Meteora, mesmo com muitas exigências, valeu a pena, e gostaria de repetir. Se fosse possível, amanhã gostaria de voltar. Afinal, porque estive em apenas dois dos seis mosteiros. Aliás, aceitaria ver os mesmos dois novamente.
Trago algumas evocações ajudados por escritos que estão presentes na Internet. Não saberei fazer muito diferente daquilo que estudiosos já louvaram. Para mim, Meteora é inenarrável. Pode-se experimenta-la, para sabe-la um pouco.
Meteora (em grego: Μετέωρα, "meio do céu") é um dos maiores e mais importantes complexos de mosteiros do Cristianismo Ortodoxo, superado apenas pelo Monte Atos —[ver box ao final] —. Os seis mosteiros foram construídos sobre pilares de rocha de arenito, na região noroeste da planície da Tessália, próximo ao rio Peneu e às montanhas Pindo, na Grécia central. O maior pico em que se localiza um mosteiro tem 550 metros. O menor, 305 metros.
Apesar de ser desconhecida a data de fundação de Meteora, crê-se que os primeiros eremitas se estabeleceram em cavernas no século 11. No final deste e início do século 12, formou-se um estado monástico rudimentar centrado à volta da Igreja de Theotókos (mãe de Deus). Os monges eremitas, procurando um refúgio seguro à ocupação otomana, encontraram nos rochedos inacessíveis de Meteora um refúgio ideal. Foram construídos mais de 20 mosteiros.
Atualmente existem apenas 6; os seis mosteiros são: Megálos Metéoros (Grande Meteoro ou Mosteiro da Transfiguração), Varlaam, Ágios Stéphanos (Santo Estêvão), Ágia Tríada (Santíssima Trindade), São Nicolau Anapausas e Roussanou. Visitei os dois primeiros apenas. Dos quais o de Santo Estêvão, o único feminino.
O acesso aos mosteiros era feito por guindastes e apenas em 1920 foram construídas escadas de acesso. Em 1988, este monumento com montes e vales revestidos com florestas foi classificado Patrimônio Mundial pela UNESCO.
Talvez, o mais exótico deste conjunto de edificações é que os mosteiros se aninham ao alto de torres de rochas cinzas, que estão sendo esculpidas pela erosão há milhares de anos. Tento uma comparação brasileira. Aquelas formações rochosas que há no Paraná, próxima a Ponta Grossa, que se parecem cálices moldados pelo capricho dos ventos milenares poderia ter sobre elas um automóvel. Em Meteora, há torres assemelhadas que brotam nos planaltos e têm sobre elas várias construções que formam um mosteiro. Há informações que análises químicas sugerem que as formações rochosas onde Meteora foi construída apareceram 60 milhões de anos atrás por meio de erosão fluvial.
Os primeiros Mosteiros de Meteora foram fundados no século 14, foram construídos a fim de escapar dos turcos e dos albaneses na época da guerra.
Nossa primeira visita foi ao Mosteiro Agios Stefanos (Santo Estevão) construído na primeira metade do século 15 e Santo Filoteos (meio do século 16) são ambos honrados como os fundadores deste monastério. A pequena igreja de Aghios Stefanos é uma basílica de ala única, construída em 1350. Ícones do período pós-bizantino, vestes sacerdotais e telas bordadas a ouro, com finas peças de prata podem ser admirados quando da visita. O seu imponente Santo Altar é utilizado como um museu moderno com as mais impressionantes heranças da igreja.
Mosteiro da Transfiguração ou Grande Meteoro foi a nossa segunda visita. Aqui diferente de São Santo Estevão há sequência de escadaria exigindo a subida de dezenas de degrau, pois está localizado em extenso e elevado planalto. Foi criado em 1340 por Aghios Athanassios Meteoritis (1302-1380). Athanasio, expulso do Monte Athos, com vários seus fiéis fundou o grande mosteiro de Meteora.
Há a possibilidade de se visitar o Museu da Arte com ferramentas e aparelhos antigos, em sua maior parte em madeiras centenárias. O ossuário, a igreja da Transfiguração de Jesus, o santuário foi construído em 1388 e a igreja principal, em 1545, o Altar central foi construído em 1557 e hoje em dia, há um bem organizado Museu da Herança da Igreja e uma cozinha de 1557 formando o Museu do Folclore com peças de cobre antigo, de barro e utensílios de cozinha e de agricultura, de fiação, moagem e produção de vinho em madeira.
Há muito mais há narrar. O texto está grande e há limitação. Preciso registrar meu agradecimento ao Stamati, referido nas duas edições anteriores, ao seu sogro, que além de ter-se mostrado na terça-feira em competente cantor e violoncelista é excelente motorista e a Cristina, a arqueóloga que soube responder às minhas perguntas. Minha gratidão muito especial às seis colegas do MES9, de seis países diferentes, que foram excelentes parceiras no fruir de maravilhas que nos fizeram distinguidos pelas belezas percebidas.

O Monte Atos (em grego Όρος Άθως) é uma montanha e península na Grécia. É patrimônio mundial da UNESCO, constituindo-se também como entidade política autônoma da República Helênica, governada por um Conselho Teocrático da Igreja Ortodoxa Grega. Na atualidade, os gregos usam a expressão "Montanha Sagrada" (em grego Άγιον Όρος) para se referir ao Monte Atos. O Monte Atos abriga vinte mosteiros greco-ortodoxos sob direta jurisdição do patriarca de Constantinopla. O nome oficial da entidade política é Estado Monástico Autónomo da Montanha Sagrada. Esta Região, Província ou Território Dependente da Grécia possui cerca de mil habitantes, todos do sexo masculino, sendo vedado o ingresso pessoas ou animais do sexo feminino.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

12.—Sobre um presente (não) grego

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Na edição anterior, neste estar na Grécia, foi mencionada a Guerra de Troia e esta evoca a astúcia dos atenienses para vencer os troianos. O célebre cavalo deixado com guerreiros em seu interior e a simulação da rendição terminando uma guerra de mais de 10 anos, que iniciara com o rapto de Helena. Todos sabemos o quanto este fato ocorrido, talvez, há mais milênios, perpassa o tempo e a expressão ‘presente grego’ traduz o oferecimento de uma ‘oferenda negativa’.
Quando chegamos ao hotel, nos ofereceram uma cortesia: um upgrade, sem custo, a uma suíte dita junior. Houve um discreto alerta: como a mesma se localiza num canto distante da porção central do hotel, a conexão de Wi-Fi, às vezes, é menos boa. Tal como o cavalo deixado pelos atenienses, oferta era sedutora. Ocorre que o ‘às vezes’ referido se fez sempre e tal suíte se fez para nós ‘um presente grego’.
Mas recebemos outro presente de gregos, que se mostrou, imediatamente, não ser um ‘presente grego’. No sábado recebemos uma mensagem que trazia como Assunto: AN INVITATION: YOU CANT REFUSE
Chegamos pensar tratar-se de trote ou um vírus ou alguns destes engodos que pululam na Internet.
Eis o teor da mensagem, cujo original era em inglês aqui publicada em uma tradução livre, com autorização de seu remetente, que na edição anterior está referido como o guia que nos levou ao Monte Pilion.
Bom dia, muito queridos Gelsa e Attico!
Espero que vocês estejam aproveitando o evento!
SORTE - SURPRESA!
Faye, o menino Odysseas, a bebê Athina e eu gostaríamos de convida-los na próxima terça-feira, 11 de abril para disfrutar de um jantar grego em nossa casa!
Como observei no programa da conferência, vocês não têm apresentações naquele dia. Eu posso buscá-los às 18:30 - 19:00 e, é claro, que eu vou trazê-los de volta para o hotel mais tarde.
Na próxima semana é a semana santa e antes do Domingo de Páscoa nós gregos usualmente não comemos carne durante esta semana.
Podem, por favor informar se para vocês estiver ok, com frutos do mar (como massas com camarões, octapus, mexilhões, peixe etc.).
Por favor, deixem-nos saber o que vocês não comem (como produtos lácteos, queijo, leite etc?).
Nós nos sentimos como se nós os conhecêssemos por muitos anos, assim por favor não digam não ao convite de amigos! Desfrutem tanto quanto vocês poderem!
Atenciosamente, Stamatis
Assim, até a noite de terça-feira amealhamos interrogações. O Stamatis nos levou de Agria a Volos. Na sua casa fomos acolhidos por sua esposa, filhos, mãe e sogros. Lá estava a Ani, uma canadense que também participa do MES9.
Acredito que tenhamos vivido a proposta do encontro: estar com uma família grega. Adito ao autor do convite méritos a mais duas pessoas, ambas de mesmos nomes: Odysseas — numa evocação a um dos dois principais poemas épicos da Grécia Antiga, atribuídos a Homero. É uma sequência da Ilíada, outra obra creditada a Homero — um menino de cinco anos e seu avô materno.
O menino estava exultante com nossa visita. Trouxe uma seleção de seus trabalhos escolares. Desenhou e pintou em detalhes uma bandeira do Brasil. A Athina, de quatro messes, que homenageia uma das deusas mitológica, de vez em vez, interrompia seu sono, para aderir as alegrias da casa.
O avô com um violão executou músicas e cantou canções amplo repertório onde predominavam nomes gregos, incluindo música religiosa da igreja ortodoxa.
Comida típica, sendo muito presente frutos do lendário mar Egeu, que nos encanta bestes dias primaveris de plenilúnio. Vinhos gregos, branco e tinto, completavam o cardápio. Também, um suco de frutas de conhecida empresa que visitáramos na segunda-feira foi saboreado.
Foi uma noite para qual a rotulação mais conveniente é: confraternização. Obrigado, ao atencioso Stamatis e seu familiares.
Esta edição já estava redigida quando no fim de tarde/começo de noite desta quarta-feira, 12 de abril, fomos presenteados, juntamente com os colegas da UNESP, Miriam e Ole, com tour por Volos pelo Stamatis. A ele, aditamos gratidão, uma vez mais.


terça-feira, 11 de abril de 2017

11.—Numa pausa: o monte Pilion

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Depois de dois dias plenos de atividades, das 8h às 22h, a tarde e a noite desta segunda-feira foram livres. Hoje, terça-feira, a 9th Mathematics Education and Society Conference (MES9) voltou a pleno. Ontem, às 14h, numa ensolarada tarde primaveril, deixamos, pela primeira vez o hotel, onde entráramos na sexta-feira, no começo da tarde.
Havia oportunidade para excursões. Elegêramos ir ao Monte Pilion. 
Quando falamos do legado grego — como está na edição do dia 5, que os gregos ensinaram o Ocidente a pensar —, aflora fértil a sua mitologia. Nela, no panteão dos deuses aprendemos a cosmogonia do mundo grego que, diferentemente, por exemplo, daquela do judaísmo não tem uma ortodoxia marcada por livros sagrados, como aquela que está no relato do Gênesis.
Assim, antes de ascender ao Pilion, aprendemos que este monte tomou seu nome do rei mítico Peleus, pai de Aquiles. Aqui era a pátria de Chiron, o centauro, tutor de muitos heróis gregos antigos, tais como Jason, Aquiles, Theseus e Heracles.
Ao vermos durante toda a subida o azul mar Egeu era impossível não lembrar dos argonautas. Foi no Monte Pilion, perto da caverna de Quíron, que ocorreu o casamento de Tetis e Peleu. A deusa Eris não foi convidada e excluída da festa, para se vingar enviou uma maçã de ouro com a inscrição "Para a mais bela". A disputa que então surgiu entre as deusas Hera, Afrodite e Athena resultou em eventos que levaram à Guerra de Tróia.
Quando os gêmeos Otus e Ephialtes tentaram atacar o Olimpo — e isso me evoca a construção da torre de Babel—, eles empilharam o Monte Pilion no Monte Ossa, para chegar ao Olimpo onde moravam as deusas e os deuses.
Deixemos os tempos míticos e retornemos ao Monte Pilion em nosso 2017. A meta era visitarmos um monastério. Se for perguntado ao Google por monastérios no monte Pilion, teremos elencado uma dezena.
O competente Stamatis, nosso Virgílio neste tour, nos levou ao Agios Lavrentios ou monastério de São Laurêncio. Ele está situado num dos planaltos mais altos do Monte Pilion, cercado de uma vegetação colorida pela primavera. É uma imensa construção original do século 13, muito bem restaurada. O monastério esteve por um tempo com os beneditinos, mas a situação se altera com o aprofundamento do Cisma.
Grande Cisma foi o evento que causou a ruptura da Igreja Católica, separando-a em duas: Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, a partir do ano 1054, quando os líderes da Igreja de Constantinopla e da Igreja de Roma se excomungaram mutuamente. O distanciamento entre as duas igrejas cristãs tem formas culturais e políticas muito profundas, cultivadas ao longo de séculos. As tensões entre as duas igrejas datam no mínimo da divisão do Império Romano em oriental e ocidental, e a transferência da capital da cidade de Roma para Constantinopla, no século 4º.
Assim, por exemplo, os membros da Ordem de São Bento, ligados à Igreja Católica Romana, deixam o mosteiro e vêm monges ligados a Monte Atos, em tempos diferentes, em um dos quais vem aquele que será o santo patrono do convento.
Ontem, nos surpreendeu pelo menos duas informações: são apenas três as monjas que povoam o imenso monastério e aquela que nos acolheu com imensa cordialidade contou que tem automóvel para seus necessários deslocamentos. Como não perguntamos a marca do carro, não sabemos se ela viola o voto de pobreza, presente àqueles que vivem a vida em ordens religiosas.
Ao anoitecer nosso grupo — cerca de 40 pessoas — que havia sido recebido mais cedo em uma casa de família para mostrar a fidalguia grega, confraternizou em um pequeno vilarejo em um restaurante, em jantar muito típico e muito farto. Como no local não há acesso a veículos automotores, não vou relatar os temores de subir e descer por caminhos acascalhados. Mas todos sobrevivemos.
Na volta — já mais de 22 horas — um plenilúnio parecia pratear as águas do mar Egeu. Esta lua cheia, por ser a primeira da primavera/outono 2017, nos alerta que próxima sexta-feira será Sexta-Feira Santa.

sábado, 8 de abril de 2017

. 09.—No MES9, em Volos, na Grécia

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Se abrisse esta blogada dizendo que estou em Volos, isso diria quase nada a meus leitores. Pouca diferença acrescentaria se dissesse que escrevo desde Volos, na Grécia.
A Wikipédia diz que Vólos (em grego: Βόλος) é uma cidade situada no centro da Grécia, a cerca de 326km ao norte de Atenas e 215km ao sul de Tessalônica. Volos, capital da prefeitura da Magnésia, é uma cidade portuária costeira na Tessália situado a meio caminho no continente grego, cerca de 326 km ao norte de Atenas e 215 km ao sul de Thessaloniki. Volos é a única saída para o mar da Tessália, a maior região agrícola do país. Com uma população de cerca de 150 mil habitantes, é um importante centro industrial, enquanto o seu porto oferece uma ponte entre a Europa, Oriente Médio e Ásia.
Agora cabe a interrogação: que faço em Volos? Estou, pela primeira vez, nesta cidade, mais precisamente, no balneário de Agria, em um lindo hotel para participar da 9th Mathematics Education and Society Conference (MES9). Na verdade, minha participação no MES9 é como Príncipe Consorte (também, com sorte) pois uma das estrelas é a Gelsa. Celebramos, neste abril, 30 anos no compartilharmos a vida juntos, e isso catalisa muito de meu estar aqui. A foto desta edição foi tomada nesta tarde de sábado, da sacada de nosso apartamento e quer ilustrar algo da beleza de Agria no Golfo do mar Egeu.
Com um pouco mais de uma centena de participantes, de 30 países, no MES9, tento viver uma das teses que fiz título de meu último livro: “Das disciplinas à indisciplina”, mesmo que me considere um alienígena por duas razões — como expus em um grupo esta manhã — primeiro, pela minha dificuldade de me comunicar em inglês; segundo, por talvez, ser o único participante que não seja da área da Educação Matemática. Tento fazer o meu melhor; não sei o quanto isso acontece.
Ontem, por mais de cinco horas, a partir das 17h, houve uma muito variada sessão de abertura, centrada no mote do evento: Mathematics Education and Life at Times of Crisis. Para ainda mais envolver os participantes no tema — muito presente nos vários textos que li, para preparar minha presença aqui — recebemos uma consistente aula de sociologia acerca das formas de resistência na recente crise econômica e política da Grécia, por professor da Universidade Aristóteles da Tessalônica.
Houve na abertura ainda suas séries de apresentações musicais, uma delas por universitários e outro por alunos da educação anterior à Universidade. Vimos, inclusive, a presença de instrumentos que não pertencem ao nosso cotidiano.
Não vou resenhar o evento. Mas devo dizer que estou aprendendo tanto relevantes conteúdos, quanto a forma de se desenvolverem os painéis e simpósio, como a distribuição física dos participantes. Ainda volto a falar sobre o MES9.